70 virgens - segunda parte
Bem, já que você está sonhando com coisas bizarras mesmo, resolve que vai se deixar escorregar na maionese seu subconsciente abaixo.
(Não adianta lutar com certas coisas, não tem jeito: depois que a gente abre os olhos e se está acordando, totalmente pelada, de cinta-pau, do lado da sua chefe gostosa, que por sua vez está vestida só com um chapeuzinho de festa, na manhã depois da festa de fim de ano da empresa, não adianta fingir que nada aconteceu, não é mesmo, minha gente?)
Então. Voltando ao sonho. Por que você está sonhando com isso de brincos de diamantes? O que significa essa mensagem do aquém? Seria o dito eterno confronto entre as feminilidades dentro de você? A mãe e a filha, a fêmea e a virgem? Será que sua chefe gostosa quer um brinco de diamantes? (Hum, ela ia ficar um espetáculo de chapeuzinho de festa, brinco de diamante e só...) Ai, que mistério! O brinco de diamantes dança contra o fundo escuro, saindo e entrando em foco, fantasmagórico.
Diamantes. O feminino, o eterno... matrimônio... diamantes... o clipe de ‘like a virgin’... os peitos da Madonna... pãtz, como a Madonna era gata... Inclusive, aquele seu primeiro namorado realmente não fazia idéia do que estava fazendo quando te emprestou a fita do Girlie Show...
Que virgem, quer dizer, que viagem. Você esfrega os olhos e se espreguiça. Quando os abre de novo, percebe que não estava dormindo, nem sonhando com nada mais profundo que uma daquelas horríveis vaginas de plástico com pelos sintéticos, ou mesmo do que arte conceitual - você só tinha acordado com o nariz a um milímetro de distância de um anúncio da H.Stern.
Se sentindo muito estúpida, você se afasta, passando a mão pelo rosto e a língua pelos lábios. De cima.
‘O pior não tem limites’, você lembra a si mesma a primeira lei do universo.
(Você sabe que é verdade: quando a gente acha que a Gretchen já era tudo de ruim, ela põe a Thammy pra rebolar com ela. Quando a gente achava que não dava pra piorar, a Thammy resolve virar um dos caras que assistiam ao show da mãe dela... Se pelo menos ela virasse um cara bem gatinha, sensível, citador de Clarice Lispector, com cinto de ferramentas...)
O anúncio da H. Stern estava na capa de trás de uma revista dessas que têm anúncio da H. Stern e são muito grossas - de tanta fotografia de paisagem ocupando a página inteira. Seguindo a linha de raciocínio visual, você observa a mão que segura a revista. As unhas estão ligeiramente sujas e são daquelas que descamam nas pontas. A mão é morena, muito peluda...
“Ew, que nojo, puta merda.” (Seu id punk rock bikini kill de novo)
As pontas dos dedos estão amarelo-alaranjadas de nicotina. Aquele cheiro volta a se fazer notado pelo seu estômago, que já deixou a elegância de lado e está chutando o pau (ui) da barraca.
Seguindo a abertura do foco cognitivo, um pulso, também muitíssimo peludo, seguido de um casaco de couro preto, cujo fedor se soma à sinfonia delicada dos piores odores do mundo em conferência dentro do seu aparelho digestivo. Você se estica na cadeira e fecha os olhos, respirando profundamente o ar que busca o mais alto que pode... Ei. Espere um pouco. Um cinto de segurança te prende na cadeira... Cadeira? Cinto de segurança? Como assim?
Você abre os olhos e olha em volta. Você está em um avião. Não, pra falar a verdade em um micro avião. Tá bom, num teco-teco. Você começa a hiperventilar. “Ok, devo mesmo estar tendo um pesadelo”. O mini-Freud diz que precisa discutir isso com um colega, se levanta e sai apressado do mini-escritório na sua têmpora.
O piloto diz alguma coisa em uma língua que você não consegue entender. A luz se apaga, o avião balança. Você dá um suspiro alto, profundo e irrefreável. “Ok, devo mesmo estar tendo um pesadelo, isso é horrível! Não tem nem como ser pior!”.
A reposta do universo é imediata e vingativa. Os dedos cabeludos e amarelos da mão leitora de revistas ruins, você acaba de perceber que também estão extraordinariamente suados: à guisa de conforto, o sujeito segura a sua mão. Você agora está em luta greco-romana com o nojo, de olhos fechados. “Ok, definitivamente isso é um pesadelo”.
Nisso, passa uma aeromoça absurdamente linda, maravilhosa, do tipo mulher-eclipse, daquelas que a gente só pode olhar através de filme de fotografia, senão queimam a retina de tão insuportavelmente lindas, sabem? Ela sorri, você relaxa no assento que você espera ser flutuante da cadeira do teco-teco e até esquece do que está acontecendo à sua volta.
"Máscaras de oxigênio deviam cair quando essa mulher passa, vou te contar...", você pensa e o mini-Vinícius de Moraes que mora em você balança a cabeça, sorrindo, gira o gelo no copo de uísque e te dá um tapinha nas costas.
1 Comments:
Sabe Carmem, vc devia parar com as substâncias ilícitas.
Ou terminar o conto das 70 virgens . . .
Ah! A mini-gretchen NUNCA me enganou: eu tinha certeza que aquela coca-cola era pepsi!
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