23.4.08

"Missy, Capítulo 1" - Ou "O que acontece quando Carmen fica sozinha em casa com Sônia, sua insônia crônica crítica crocitante"

Era uma vez uma fancha chamada Missy. Isso, esse era o nome dela mesmo. Não, não é apelido. Para de rir. E sim, ela é fancha mesmo, autêntica, que cumprimenta os caras com aperto de mão e joga sinuca melhor que o pai e os 3 irmãos. (juntos)

Ela morava sozinha, porque a mulher dela ("ex-mulher, Missy! Ex! Ex, porra!" - ela repetia para si mesma) tinha ido morar com uma "artista plástica" - ou seja, uma coroa rica que vivia de renda (aluguel E o tecido)e pintava telas com peitos de pobre modelos vindas do interior.

Missy tinha acabado de rasgar as fotografias com uma violência meticulosa, arquivar os emails da mulher (Nome da pasta: "ex, Missy, ex!") por ordem alfabética, queimar o colchão com a fúria de um presidiário em rebelião, defumar a casa com insenso 'Vade Retro Piranha' - recomendado por especialistas em dor-de-cotovelo miocárdico, já tinha escondido a pasta de tablaturas das músicas que tocavam juntas nas festinhas, já tinha feito tudo. Mas ainda não conseguia prosseguir com sua vida.

Ela se sentia como um carro que morreu no sinal vermelho - todo mundo buzinando atrás, mas não adianta querer, o diabo do carro não liga.

Aliás, a ex tinha levado o carro também.

Enfim, Missy estava muito triste mesmo. No cume do desespero, aquele cume nevado e de ar rarefeito, onde nem sapatas-lhamas sobrevivem, Missy senta com seu pote de chimarrão e encara a realidade. Ia ter que encarar seus fantasmas. Ela ia ter que passar uns dias com a mãe.

Trim, trim, trim.

_Alô? Quem é?
_Hummm.. Alô, mãe. Sou eu. A Missy.
_Missy! Aconteceu alguma coisa, minha filha? Você está presa? Está grávida?
_Não, mãe, eu não fui presa. E você sabe muito bem que eu não tenho como estar grávida.
_ Oy vey... (resmunga alguma coisa em iídiche que nem ela mesma sabe o que significa)
_Mãe, escuta. Eu queria passar uns dias aí com você. Pode ser?
_Hum. (hesitante)
_É que eu estou meio mal... Terminei com a Ana Paula e...
_Claro, minha filha! Venha, venha logo! Sábado é Pessach, sua Mutti vai adorar ter você aqui! O rabino Schnitzel vai vir para o Seder! E eu poderia te apresentar o filho dele, é um rapaz tão adorável!
_MÂE!
_Ai, minha filha, não custa tentar! Você é tão bonita, conseguiria um bom marido tão rápido...
_ Mãe, o rabino Schnitzel não tem uma filha para você me apresentar, não?

(*)(*)

Missy chega na casa da mãe. Ela para na porta. Medo. Reflexo condicionado. Se sente um ratinho de laboratório. "Por que eu sempre me obrigo a passar por isso?" indaga a porção que sobra do hemisfério direito do seu deprimido cérebro.

"Só pode ser algum tipo de demência geneticamente incrustrada", ela resmunga enquanto toca a campainha.

A mãe abre a porta e a abraça como um torno mecânico. E chora.

Missy usa as técnicas do jiu-jitsu (5 anos, dois títulos estaduais, 5 colegas de turma apaixonados e um abusado com pé quebrado) para se soltar da mãe. Pega as malas.

Nisso, seu olhar encontra alguém levantando devagar do sofá de tapeçaria. Oh não, ela pensa.

Ele se oferece para pegar as malas. Sua mãe cacareja, sorridente:

_Missy, filha, esse é o Leozinho, ele é filho...

"... do rabino Schnitzel", ela completa, com voz de quem vai desmaiar ou vomitar, o que vier primeiro.

Ele se oferece para carregar as malas, novamente. Missy agarra as alças das maças. Ele paralisa, sem saber o que fazer. Ela rosna "sai da frente". Ele pula para o lado. Ela passa bufando, pisando duro, quase batendo com as malas no filho do rabino.



(*)(*)

E agora? Será que Missy irá agüentar a mãe e o Leozinho juntos? Será que conseguirá esquecer Ana Paula, sua ex? Será que ela vai surtar que nem a Jenny? Não perquem os próximos capítulo tudo!

2 Comments:

Blogger Narayan se meteu e disse...

ai!
to aqui rezando à Santa Perereca pra ajudar a Missy numa situação dessas.
Mas eu no lugar dela, tinha deixado o cara carregar as malas.
huahua

1:21 PM  
Anonymous Anônimo se meteu e disse...

A solidão de vcs é muito produtiva!
Tô acompanhando 2 novelas em dois "canais". Aqui e no vae.
Não vai parar não, né?

10:44 AM  

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