Ooooi povo!
2010 chegando na área! Vamos ver se ele não tropeça nos cadarços e faz um gol, que 2009 foi um ano muito perna-de-pau, não é mesmo, minha gente? Deixou até o Flamengo ser campeão, o Vasco subir de volta e o Fluminense e o Botafogo não caírem, tudo ao mesmo tempo! Haja pernice de pau!
(e haja garrafa de rum...)
Bom, como a maioria de vocês ficou sabendo, eu estou no Canadá. Pois é, pois é. A edição de hoje do ACT News vem do nortão gelado do mundo.
Vou começar com um relatório especial abacaxístico sobre Toronto, enquanto tomo um café e a neve cai na varanda do apê.
Minha gente, a rua gay aqui se chama Church Street. Não é irônico? Se eu acreditasse em alguma divindade, eu ia achar que ela tem um senso de humor um pouco... irônico.
Bom, gente. Aqui não tem um dia Pride. Não. Tem uma semana inteira P*R*I*D*E. É lindo.
O Whole Foods, que é um supermercado onde tudo é reciclável, orgânico, natural, fair trade, apóia o Obama e é socialmente responsável, pendura uma bandeira GIGANTESCA do arco- íris na parede durante a Pride Week. Se liga:
O Museu Real de Ontário, aqui na esquina de casa, também pendura uma bandeirona.
Até uma igreja, a Union, tem bandeirinhas, para meu espanto. Bom, eu devia saber – no ano passado, uns bispos canadenses que estavam visitando o vaticano tomaram um esporro do papa (no mau sentido) porque rola uma tolerância com o povo LGBTTIQQ por aqui, rola casamento gay, rola aborto e os parlamentares católicos “seguem os desejos de seus eleitores”. Juro. Ele tá puto porque os parlamentares canadenses, em vez de seguir a própria religião, seguem a vontade de seus eleitores. Para de rir, é sério. Não, não to brincando!
Que mais? Ah, bem, eu não tomo vergonha na cara e estou casada, novamente. Eu sei, Dalloway vai dizer que eu devia fazer análise, porque eu vivo me apaixonando por mulheres invencível, ontológica e biologicamente monogâmicas. Daí, depois de longos períodos de debates épicos que chegam em acordos piores do que o de Copenhague, eu finalmente aceito a verdade inefável da história lésbica: alguns receptores de vasopressina não podem ser convencidos a se converterem à poliamoria por força dos argumentos... E às vezes o amor é mais importante do que a liberdade, como já diziam todos os gays presos no Irã...
E aí, minha gente, fazer o quê? Amor lésbico é uma força inescapável. Sabem? Vocês sabem, que eu sei! Aquele amor cósmico-lésbico-além-do-infinito...
Aquele amor tem-sempre-alguém-no-cosmos-ajudando-o-cavaleiro-a-vencer...
Aquele amor pra-sempre-eu-vou-te-amar-desesperadamente-eu-sei-que-vou-te-amar-e-depois-que-a-gente-terminar-vamos-ser-grandes-amigas!
Bom... daí eu me caso! Mazel tov pra mim!
Bom, então é isso: estavelmente casada como se eu concordasse com a minha mãe em alguma coisa na vida, feliz como uma criancinha que comeu brigadeiro e está de pilequinho com biotônico fontoura, e com um frio desgraçado, vou chutar o pau (ui!) da barraca e estrear esse blog nesse ano que desponta!
Então, gente, viva a sabedoria do clichê! Achei que seria legal fazer uma listchénha dos melhores e piores momentos de 2009. Chamei Bill, minhe companheire irmãe caminhoneire shell, pra me ajudar nessa empreitada. Vocês também podem ajudar, amiguinhas, amiguinhos e amiguinhes! Deixem aí sugestões na caixinha de comentários – não se acanhem, não é que nem no Spoleto ou nos Correios, onde eles nunca nem abrem a caixa de comentários e sugestões. Aqui o pessoal tem um monte de procrastinação pra fazer!
Todo mundo cantando junto: uma mestranda procrastina lou-ca-men-teeee! Duas mestrandas procrastinam, procrastinam muito ma-ais! (Beijo, Dalloway!)
Sem mais delongas, Senhoras, Senhores e Senhorirs, com vocês... Premio Abacaxi Com Tofu Dos Pió Momento Tudo de 2009! (Bill vai postar a lista dos melhores momentos. Eu to meio amarga hoje, eu ia estragar tudo e reclamar até dos melhores momentos!)
(Não vou nem comentar William Bonner na lista dos caras mais sexy de 2009 do Mixbrasil. Eu sou uma lésbica 5, 999 na escala Kinsey e até EU sei que o William Bonner não é sexy. Come on!)
1 – Projeto de lei “anti-homossexualidade” em Uganda – país que já criminaliza o ato sexual homossexual – que prevê pena de morte para gays e lésbicas, penas para parentes que não denunciarem um gay e penas até para atos homossexuais praticados no exterior. Tudo isso iniciado depois de reuniões de evangélicos dos EUA com líderes e parlamentares de uma sociedade em que lésbicas, gays, bissexuais e transexuais são rotineiramente presos, agredidos e mortos.
2 - Os ataques NAZI-ESCROTOS ao Richarlyson – inclusive por pessoas gays - e o silêncio conivente da mídia em geral
Ridículo. Não tem outro nome. Patético, lamentável, digno de nojo.
Depois de termos visto uma reabilitação parcial das nossas torcidas de futebol – todo mundo lembra daqueles anos tristes em que nossos pais pararam de nos levar aos estádios por causa de violência; depois de termos visto as ofensas racistas sendo combatidas até praticamente sumirem dos estádios; depois de termos visto as mulheres indo aos jogos de futebol em paz, sem precisar aturar (tantos) comentários neandertais de carregadores-de-clava disfarçados de torcedores; depois que dirigentes e governantes foram chamados a se responsabilizar pelas arquibancadas que desmoronavam; depois que as crianças puderam voltar a ir ver jogos nos ombros dos pais sem patinar em mijo nas rampas do Maraca... Depois disso tudo, ainda somos obrigadas a assistir esse espetáculo assustador.
Torcedores do próprio time xingando o jogador. Ameaças de morte e de agressão. Torcedores gays lançando mão da carta covarde do “é só futebol” para participar desse circo de agressão homofóbica. E, com a exceção de uma ou outra coluna corajosa, o silêncio da mídia em geral. E silêncio dos clubes – com a exceção do São Paulo, que continua apoiando o jogador.
E, vou te contar, muito pouco barulho de nossa parte.
Será que a gente precisa que os argentinos nos chamem de viaditos pra gente começar a mudar?
Não sei, mas que foi triste ver a torcida do meu time participar desse tipo de imbecilidade, foi. Partiu meu coração botafoguense – e olha que coração botafoguense é coração calejado!
3 e 4- A censura da Globo (ainda!!!) ao beijo gay E a doideira-barra-amnésia roteirística da minissérie Cinquentinha.
Marília Gabriela representa uma bi que faz par com Ângela Vieira, uma lésbica que, após tomar um boa-noite-cinderela, fica com amnésia bizarra e “esquece” que é gay.
Gente, que idéia de girico... Se fosse assim, o que ia ter de mãe e pastor por aí dando boa-noite cinderela não ia estar no gibi!
5 - O final “Greve de Roteiristas” do The L Word.
Só dois comentários, que senão eu não paro mais:
SUAS TRANSFÒBICAS DOIDAS!
e
QUE PORRA VCS FUMARAM???
6- Uma juíza argentina cancelando a licença de casamento de um casal gay.
Boo! Shame on you! Shane on me!
Mas tudo bem, porque eles receberam uma “autorização especial” (!?) de uma governadora de província e casaram. Whatever pra ela.
7- Posso falar de novo? O papa dizendo que os parlamentares canadenses não deviam votar de acordo com os desejos de seus eleitores, mas de sua religião pessoal, em assuntos como – claro!- o casamento gay. Eu JURO que ele falou isso. Sério mesmo! Não, não foi em 1500, foi ano passado!
8 - Bomba em cima dos companheiro tudo!
Tacaram uma bomba em cima do pessoal no fim da parada gay de Sampa. E, claro, ninguém conseguiu descobrir quem foi o McGuyver que fez uma bomba caseira e tacou de um prédio que TODA uma parada gay viu qual foi.
Muuuito difícil. Mas eu já escrevi um post inteiro sobre isso, então vamos prosseguir.
9- Rozangela Alves Justino, aka aquela mulé BIZA que foi chamada na chincha pelo Conselho Federal de Psicologia porque "curava" gays.
Em 2009. No Rio. Não, não é em Uganda, não.
(eu li em algum lugar que ela não mais atenderá o público. Ahh! To TÃO triste!)
10- O mais novo presidente da Assembléia Geral da ONU, Ali Abdussalam Treki, com o papo de que a homossexualidade is "not really acceptable" e que não é democrático que algums países decidam "permití-la".
Treki disse: "That matter is very sensitive, very touchy. As a Muslim, I am not in favour of it . . . it is not accepted by the majority of countries. My opinion is not in favour of this matter at all. I think it's not really acceptable by our religion, our tradition. “It is not acceptable in the majority of the world. And there are some countries that allow that, thinking it is a kind of democracy . . . I think it is not”.
Claro. Afinal, democracia é quando todo mundo concorda com você. Democracia é quando o pessoal que discorda de você não pode determinar suas próprias regras, porque você sozinho decide o que é democracia!
É lindo. To emocionada. Me dá um lenço.
Ai, meu São Foucault, me ajuda em 2010...