29.5.07

:: Tofuzinho Filosofal ::

"Mulher mal-resolvida com a ex é que nem maçã na salada de batata: você só descobre a merda quando já tá comendo."

28.5.07

() () Coisas de Abacaxi () ()

Ouvido em uma roda:

"Então, ela me disse: 'Anda, vai, fala logo. Eu sei que atrás dessa moita tem coelho!'

E eu respondi: 'Ai, tá bom! Sabe o que é? É que minha coelha gosta muito da sua.' "

:: Tofuzinhos filosofais ::

"Antes uma mão aqui do que duas voando."

27.5.07

70 virgens - terceira parte.

Essa aeromoça é mesmo uma uva. Mas, como tudo na vida é passageiro, menos trocador e motorista, a aeromoça-uva passa.

As mulheres se vão, fica só o vazio... E a mão suada. Tentando o máximo que pode não tirar a mão muito rápido, você dá um sorriso que só é menos amarelo que os dedos do sujeito e vai escorregando para o lado. A mão, apesar de suada, devia ter uma superfície sobrenaturalmente áspera, porque escapar do tal ato de “solidariedade” se provou muitíssimo difícil. Valeu pela esfoliação ma-ga-vi-lho-sa que a amiga meio perua da sua ex nunca conseguiu te convencer a fazer.

As luzes do avião piscam. A voz do piloto se junta às das outras pessoas, todas no mesmo idioma absolutamente irreconhecível. Sem respirar, de olhos fechados, com as mãos entre as coxas, para evitar uma reincidência do motoqueiro cowboy – você percebe que ele usava um chapéu country combinando com o resto, ou seja, feio e meio amarelado. Um tempo incomensuravelmente grande se passa, quase tanto tempo quanto sua mãe gasta comprando cortinas. Você força a memória para cantar 3 vezes “Faroeste Caboclo”, até o solavanco monstruoso que indicou o pouso. Se é que a asa direita arrastando no chão e soltando fagulhas dignas do ano novo em Copacabana poderia caracterizar aquilo como um pouso.

Você desce cambaleante do avião por uma escada que balança e range mais que o próprio avião, enquanto luzes vermelhas piscam ao seu redor. Não há qualquer mala à vista. Você começa a tatear os bolsos em busca do tíquete de bagagem. Nah. Absolutamente nada nos bolsos. Nada, nem um papel de bala, nem mesmo os onipresentes comprovantes de débito automático. Seu coração já não bate, mas rebomba furiosamente, como que querendo se livrar do resto de você e fugir correndo dali. Um lugar desconhecido, sem bagagens, sem documentos, sem falar ou mesmo reconhecer a língua local.

Evidentemente, um pesadelo, concordam o soviete supremo das lésbicas feministas trotskistas e o Imperador Ratzinger Palpatine.

Te ocorre observar a polícia, para verificar se não é mais prudente acionar a máfia local.
Depois de alguns minutos passeando a esmo pelo aeroporto, descobres o cawboy-motoqueiro bem ao seu lado, agora com um adendo de mortadela a seu já extraordinário conjunto de fragrâncias. Você estala a mão na cara e respira fundo quando ele se aproxima sorrindo, com duas malas enormes, e você pode ver nitidamente um pedaço grotesco de mortadela preso entre a gengiva de cor acinzentada e o dente de ouro.

Você disfarça por alguns instantes, em desespero, tateia o bolso em busca do celular, tenta achar o banheiro feminino, mas logo percebe que o sujeito está esperando que você faça alguma coisa, parado na sua frente olhando para você. Como último recurso desesperado, você pisca repetidas vezes – quem sabe isso tudo ainda é um anúncio horrível de brincos de diamante?

Por fim, impaciente, põe as mãos na cintura e pergunta, desaforadamente: “Qual é, mermão?” (nessas horas, o sotaque eclode, tão invencível e inevitável quanto pensamentos pornográficos em reuniões de comitê, ou o carnaval.)

O cara parece achar que você disse uma coisa muito simpática, porque se apressa em pegar as malas e ir te encaminhando para um grande carro preto e cheio de arestas, como os carros pretos de antigamente, quadrado e simples, que cagavam solenemente para a aerodinâmica. Te ocorre que carros pretos de pontas quadradas são coisas que combinam muito com brincos de diamantes, colares de pérola e esse tipo de coisa, o que te faz suspeitar que ainda está presa em uma versão Twilight Zone de um anúncio da H. Stern. Você divaga enquanto caminha e consolida a opinião de que um cadilac azul e branco definitivamente combinaria melhor com o cowboy-motoqueiro. O sujeito joga a bagagem no porta-malas e você não consegue evitar o pensamento de que cabem duas de você, inteiras e amordaçadas, ali. Já se a gente cortar em pedaços, caberiam muito mais...

Um arrepio nasce na sua nuca e escorre pelas costas. O sujeito sorri mais uma vez, a mortadela deve ser brasileira porque não desiste nunca e ainda está lá. Ele abre a porta de trás, muito cortesmente, inclinando-se. Você hesita, a cabeça lateja e a desconfiança encharca as costas da sua blusa com suor.

(Música de suspense. O plano de câmera fecha na sua cara tensa. Será que você vai virar mortadela? Não percam a calma, nem os próximos episódios.)

22.5.07

:: ENTER THE LICKS ::

Depois disso....





... e disso



a coisa mais light que uma menina pensa é:



Ai, se uma dessas mãos fosse minha!

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15.5.07

70 virgens - segunda parte

Bem, já que você está sonhando com coisas bizarras mesmo, resolve que vai se deixar escorregar na maionese seu subconsciente abaixo.

(Não adianta lutar com certas coisas, não tem jeito: depois que a gente abre os olhos e se está acordando, totalmente pelada, de cinta-pau, do lado da sua chefe gostosa, que por sua vez está vestida só com um chapeuzinho de festa, na manhã depois da festa de fim de ano da empresa, não adianta fingir que nada aconteceu, não é mesmo, minha gente?)

Então. Voltando ao sonho. Por que você está sonhando com isso de brincos de diamantes? O que significa essa mensagem do aquém? Seria o dito eterno confronto entre as feminilidades dentro de você? A mãe e a filha, a fêmea e a virgem? Será que sua chefe gostosa quer um brinco de diamantes? (Hum, ela ia ficar um espetáculo de chapeuzinho de festa, brinco de diamante e só...) Ai, que mistério! O brinco de diamantes dança contra o fundo escuro, saindo e entrando em foco, fantasmagórico.

Diamantes. O feminino, o eterno... matrimônio... diamantes... o clipe de ‘like a virgin’... os peitos da Madonna... pãtz, como a Madonna era gata... Inclusive, aquele seu primeiro namorado realmente não fazia idéia do que estava fazendo quando te emprestou a fita do Girlie Show...

Que virgem, quer dizer, que viagem. Você esfrega os olhos e se espreguiça. Quando os abre de novo, percebe que não estava dormindo, nem sonhando com nada mais profundo que uma daquelas horríveis vaginas de plástico com pelos sintéticos, ou mesmo do que arte conceitual - você só tinha acordado com o nariz a um milímetro de distância de um anúncio da H.Stern.

Se sentindo muito estúpida, você se afasta, passando a mão pelo rosto e a língua pelos lábios. De cima.

‘O pior não tem limites’, você lembra a si mesma a primeira lei do universo.

(Você sabe que é verdade: quando a gente acha que a Gretchen já era tudo de ruim, ela põe a Thammy pra rebolar com ela. Quando a gente achava que não dava pra piorar, a Thammy resolve virar um dos caras que assistiam ao show da mãe dela... Se pelo menos ela virasse um cara bem gatinha, sensível, citador de Clarice Lispector, com cinto de ferramentas...)

O anúncio da H. Stern estava na capa de trás de uma revista dessas que têm anúncio da H. Stern e são muito grossas - de tanta fotografia de paisagem ocupando a página inteira. Seguindo a linha de raciocínio visual, você observa a mão que segura a revista. As unhas estão ligeiramente sujas e são daquelas que descamam nas pontas. A mão é morena, muito peluda...

“Ew, que nojo, puta merda.” (Seu id punk rock bikini kill de novo)

As pontas dos dedos estão amarelo-alaranjadas de nicotina. Aquele cheiro volta a se fazer notado pelo seu estômago, que já deixou a elegância de lado e está chutando o pau (ui) da barraca.

Seguindo a abertura do foco cognitivo, um pulso, também muitíssimo peludo, seguido de um casaco de couro preto, cujo fedor se soma à sinfonia delicada dos piores odores do mundo em conferência dentro do seu aparelho digestivo. Você se estica na cadeira e fecha os olhos, respirando profundamente o ar que busca o mais alto que pode... Ei. Espere um pouco. Um cinto de segurança te prende na cadeira... Cadeira? Cinto de segurança? Como assim?

Você abre os olhos e olha em volta. Você está em um avião. Não, pra falar a verdade em um micro avião. Tá bom, num teco-teco. Você começa a hiperventilar. “Ok, devo mesmo estar tendo um pesadelo”. O mini-Freud diz que precisa discutir isso com um colega, se levanta e sai apressado do mini-escritório na sua têmpora.

O piloto diz alguma coisa em uma língua que você não consegue entender. A luz se apaga, o avião balança. Você dá um suspiro alto, profundo e irrefreável. “Ok, devo mesmo estar tendo um pesadelo, isso é horrível! Não tem nem como ser pior!”.

A reposta do universo é imediata e vingativa. Os dedos cabeludos e amarelos da mão leitora de revistas ruins, você acaba de perceber que também estão extraordinariamente suados: à guisa de conforto, o sujeito segura a sua mão. Você agora está em luta greco-romana com o nojo, de olhos fechados. “Ok, definitivamente isso é um pesadelo”.

Nisso, passa uma aeromoça absurdamente linda, maravilhosa, do tipo mulher-eclipse, daquelas que a gente só pode olhar através de filme de fotografia, senão queimam a retina de tão insuportavelmente lindas, sabem? Ela sorri, você relaxa no assento que você espera ser flutuante da cadeira do teco-teco e até esquece do que está acontecendo à sua volta.

"Máscaras de oxigênio deviam cair quando essa mulher passa, vou te contar...", você pensa e o mini-Vinícius de Moraes que mora em você balança a cabeça, sorrindo, gira o gelo no copo de uísque e te dá um tapinha nas costas.

13.5.07

70 virgens - primeira parte

Você está acordando. Um barulhinho de motor.

Não, não. Ele vem crescendo, barulhão de um motor enorme, artificialmente abafado por camadas de estranhas fibras derivadas do petróleo – e chega a ser suave. Suavidade cumulus nimbus, de colossos distantes.

Você percebe que está despertando, mas não quer abrir os olhos. Nessa hora, a gente sempre começa a sentir de leve os desconfortos de voltar sem querer à consciência: a coluna exige ser esticada, a perna de baixo está dormente e ameaça um mandado de segurança, o frio arranha as pontas dos dedos e abruptos cheiros irrompem a calmaria alucinógeno-anestésica do mundo de Marlboro, digo, de Morfeu.

Por falar nisso, seu estômago, sensível e exigente como as senhoras com enormes carrinhos na Tok Stock, é rápido no diagnóstico: cigarro.

Seu resmungo, filho punk rock da senhora da Tok Stock: eca, putaquiupariu...

Você aperta os olhos, rebelando-se contra a violência da existência autoritária e súbita do mundo extra-onírico. Mas não adianta, seu estômago já despertou e está chamando o gerente. Você abre os olhos, lenta e contrariadamente e vê... Ahn?!

Um brinco de diamante flutua no espaço negro. Você pisca, ele continua lá, flutuando. Pisca de novo e o busto de Newton, lá no laboratório da sua antiga escola, não pode fazer nada por suas leis: o brinco de diamante ainda flutua no negro nada.

“Ok, devo estar tendo um pesadelo”. Freud cheira pensativo o charuto e parece achar a hipótese válida.

Brincos de diamante são tão estranhos, você pensa. Fazem par com colares de pérolas na dupla mágica de manipular o tempo-espaço: fazem moças parecerem tão velhas e tão parecidas com as velhas quando eram moças...